A geração
dos ignorados que ignoram. As pessoas reclamam que não têm atenção dos próximos
a sua volta, mas agem igual ou pior do que eles. A hipocrisia dos apáticos.
A internet
propiciou que a apatia que existe dentro de nós reinasse em tempo integral.
Conhecer alguém pela internet, é como se casar e ir morar junto no primeiro
dia. Você já divide todas as falhas e intolerâncias da pessoa. E as vezes é só
isso que se divide.
O contato
social-pessoal nos convida ao informal, ao olho no olho, ao brandecer de nossas
vozes e nossas palavras. Nos convida a gentileza e ao mesmo tempo ao
medo/receio. Medo de ofender e receber o troco no imediato. Esse medo do toma
lá, dá cá é que faz as pessoas se conterem.
O contato
humano nunca foi perfeito, e nunca será. Basta algo na relação entre duas pessoas
dar errado, e todo o resto também dá errado. A internet potencializa a revolta
de quando as coisas dão errado. Mais do que isso, ela não dá espaço pra traves
sociais de simpatia e leveza, ela é muito reta e direta, o que faz todos os
erros serem acentuados desde o início, o sarcasmo colocado pra fora na primeira
linha de conversa, e o desprezo ser evidenciado na primeira discordância e
falta de interesse em haver uma interação com o assunto em questão.
É como se o
contato pessoal-real fosse uma espécie de equilíbrio, controle das emoções e
pensamentos mais mesquinhos dos seres humanos. Concordo que também seja uma
bomba relógio, mas que pode se manter por muitos anos sem explodir, e muitas
vezes criando apenas pequenas explosões, diferente do convívio internauta que
faz várias grandes bombas explodirem em pequenos períodos de tempo.
Pra falarmos
dessas grandes bombas virtuais, antes precisamos entender o ambiente em que
vivemos. A internet é uma grande fábrica de sonhos, um grande condutor de
ilusões, e o grande viveiro de mentiras que contamos pra nós mesmos o tempo
todo. Começamos pelo fato de os amores e paixões serem criados com muito mais
facilidade, e com quase retorno nenhum do ser de afeto. Em seguida, tornamos a
convivência virtual em algo muito melhor que o real, porque toda paixão parece
maior, todo o amor também, e toda a risada e interação também seguindo o mesmo
caminho. A outra questão é a intimidade repentina, e aí surgem as cobranças, o mal
humor, as críticas, as manias, e a obsessão em passar tudo isso de forma muito
mais intensa que na real. Obsessão que também ocorre na cobrança que se faz
pelo retorno rápido de quem se conversa.
Percebam,
tudo isso é uma ilusão contínua que criamos dentro de nós. Nada de fato está
acontecendo exatamente como achamos que está. Nem o amor, nem a paixão, e nem o
retorno da outra pessoa. Mas se toda essa ilusão existe, é porque ela existe
dentro de nós. Com certeza. Todos esses sentimentos e essas emoções, como
também esses pensamentos existem dentro de nós, mas colocados em um plano que
alimenta facilmente a fantasia, nos faz extrapolar, sair do contexto normal das
coisas; até porque não apalpamos tão bem
o retorno das outras pessoas, e aí nos dá margem para criações; e entrar em
um desequilibro emocional e obsessivo, sendo absolutamente nocivo pra nós. É
por isso que essa geração das redes sociais é uma das mais tristes de todos os
tempos.
E falando em
geração, não podemos deixar de falar de internet sem não falarmos das gerações de
antes, durante e depois da chegada da internet.
A geração
anterior à internet se formou na vida real, no convívio olho a olho, na
resolução de problemas e na adesão de pessoas tudo pelo gogó e a vivência.
Quando a internet chegou para essas pessoas, não passou de um paliativo, uma
ferramenta, uma facilidade e nada mais.
A geração
posterior a chegada da internet é uma geração mudada não só pelos convívios
virtuais, mas também pela diminuição do contato social-real mais massivo, e do
contato social-real espontâneo e liberal. A chegada da internet também combinou
com a liberdade da mulher. A liberdade da mulher poupou a liberdade das
crianças, que hoje vivem internadas 5 dias da semana com tarefas e vigias, e
até seu convívio social é controlado. Toda a mudança ou evolução faz perdermos
coisas e ganharmos outras. Faz parte da existência. Essas crianças além de toda
essa restrição, também não têm a proximidade massiva dos pais e irmãos, o que
os afasta ainda mais dos laços sociais. Na internet, essa geração se socializa
de forma diferente, com poucos laços, desatando-os facilmente quando necessário.
O carinho, o amor, a gentileza, a empatia, não existem mais com tanta
facilidade. Não sofrem tanto com um amor como gerações anteriores que
adentraram a internet.
Entre elas
temos a geração mais sofrida de todas, aquela que recebeu a internet durante
seu crescimento, amadurecimento. Aquela geração teve a base no convívio social-real,
e o terminou no convívio social-virtual. Considero essa a geração mais infeliz
de todos, não só porque fiz parte dela, mas porque vieram com o encanto do
mundo real para o virtual, que potencializa o que temos dentro de nós, e
terminaram com um tremendo descontentamento com os seus semelhantes. É como
sempre digo, pior do que estar só, vazio, é criar expectativas e receber o
contrário do que se esperava. É claro que devemos entender se der errado, mas
isso é dote de quem já passou por essas situações, e a geração abordada em
questão teve quedas ainda mais brutas que as que o ser humano já tem durante
seu amadurecimento comum, afinal de contas, não é demais lembrar que na
internet tudo se potencializa.
Essa geração
que chegou educada, simpática e cheia de luz no mundo virtual, se deparou com o
lado ruim delas próprias que falou muito alto. Oras, chegando com tanta expectativa
em um lugar e recebendo o total contrário, muda fortemente qualquer tipo de
pessoa, e aí vemos a geração do desanimo, da solidão, do individualismo
forçado, do falecimento interno, do secar das emoções. O mundo não foi nem um
pouco do que eles esperaram, e assim se tornaram frios para não sofrerem mais.
Muitos correram para a vida real, e seguraram se quer o vínculo com a família.
Outros nem isso. Perceba que essa geração em questão também está solteira, sem
filhos, além de outras quebras de laços. No final o caráter profissional é o
que lhes carrega na vida. Poderíamos até dizer que foi uma geração muito pressionada
pra se formar e ter uma carreira brilhante, já que foi uma das primeiras
gerações que a faculdade era indispensável para a formação profissional, e isso
pode também ter alimentado o isolamento desta geração, mas sem um convívio
conflitoso real-virtual, esse isolamento provavelmente não teria pesado tanto quanto
pesou.
A conclusão
nisso tudo é que o conhecimento nos abre a cabeça sem retorno. Conhece-se mais
rapidamente o ser humano em poucas décadas de vida, do que não se conhecia em
uma vida inteira na era pré-internet. Acho que viver perto demais de uma pessoa
no mundo virtual é nocivo pra todos, pois convivemos mais intimamente com ela
do que conviveríamos na real, e conhecemos também mais os pontos negativos da
pessoa do que se convivêssemos com ela na vida real, e como foi falado no
início, a simpatia e a leveza não existem com tanta facilidade no mundo
virtual, o que faz o combate ao desequilíbrio que esses males nos fazem quase
impossível, tal coisa sendo mostrada pelos inúmeros finais de amizades que o
mundo virtual proporcionou e proporciona para as pessoas.
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